sábado, 11 de junho de 2005

Restaurar a praia

Na sequência do texto de ontem, algumas considerações preliminares sobre um programa de acção indispensável, para além da (no entanto necessária) resposta policial. Para além dessa resposta pois suspeito que, em breve, se concluirá que o roubo era o menor dos objectivos, pelo menos em termos instrumentais, do assalto por arrastão na praia de Carcavelos.
1. Em primeiro lugar, é necessário reforçar o sentido de responsabilidade colectiva de jovens hoje com comportamentos delinquentes, oriundos de bairros degradados. Para isso, porém, começa por ser necessário construir um sentido de pertença comum a uma nação comum, contrariando práticas racistas e revendo a estúpida lei da nacionalidade em vigor. Apenas uma história real para se perceberem os efeitos de uma lei que transforma jovens nascidos em Portugal em estrangeiros na sua própria terra.
Há alguns anos, um jovem professor de educação física conduzia um programa desportivo dirigido a “jovens em risco”, os quais foram respondendo positivamente, mobilizando-se e empenhando-se na actividade desportiva, deixando progressivamente a rua. Quando o programa estava no auge, e os miúdos prontos a participar nas competições organizadas pelas federações, tiveram que ser informados que não o poderiam fazer, e muito menos representar Portugal, porque eram estrangeiros.
Brilhante!!
2. Em segundo lugar, é urgente intervir sobre o urbanismo das áreas metropolitanas eliminando guetos através de operações de reabilitação urbana. Especifiquemos: que eliminem guetos, o que não é o mesmo que substituir guetos degradados por guetos requalificados. O problema do gueto é também o da segregação residencial, que importa contrariar nas operações de realojamento para criar, por esta via, contactos com novos grupos de referência que veiculem novos modelos para os jovens. Sem esses novos modelos, não haverá controlo social possível a nível local.
O que hoje se passa na Amadora é intolerável!
3. Mais haverá a fazer para promover um sentido de pertença comum a uma nação comum e para criar um ambiente urbano favorável à construção de ordens morais que evitem uma espiral de delinquência e resposta policial sem fim à vista. Os obstáculos à concretização destes objectivos estão, porém, por todo o lado, à direita mas também à esquerda, nos interesses mas também nos valores: por exemplo, no racismo e na xenofobia nacionalista, mas também no multiculturalismo do Entreculturas.
Voltarei a este assunto noutro dia.