Estudar ajuda, e muito!
O jornal 24 Horas, no seu suplemento de sábado de 11 de Junho de 2005, incluía um dossiê intitulado “Os segredos para vencer na vida sem um curso superior”. Os equívocos e conclusões irresponsáveis que caracterizam o texto precisam de resposta.
Primeiro, o grande equívoco: estuda-se para ter sucesso mas há quem tenha sucesso sem ter estudado, logo não é necessário estudar. Errado! O sucesso depende, quando decente, do trabalho e do mérito, não dos estudos. Mas os estudos ajudam, e muito, a aumentar a produtividade de quem trabalha e a incrementar o seu mérito relativo. Estuda-se para aumentar as competências e os conhecimentos e, em consequência, para aumentar a probabilidade de viver melhor, ganhando mais, tendo mais facilidade em arranjar emprego e desenvolvendo actividades mais interessantes e menos penosas. Em geral dá resultado. Isto é, se olharmos para as estatísticas concluímos que, em média, quem estudou mais tem melhores oportunidades de vida, está menos tempo desempregado ou ganha mais do que quem estudou menos. Em média, o que quer dizer que é sempre possível ter sucesso sem ter estudado ou tendo estudado menos. Em regra, no entanto, e quando o sucesso é decente, trabalhando muito mais ou sendo excepcionalmente genial (ou por ambas as razões).
Segundo, a irresponsabilidade. Em Portugal, a população tem, em média, défices de qualificação muito elevados quando comparada com a qualificação das populações dos outros países da UE ou da OCDE. Ora, uma população mais qualificada permite um maior desenvolvimento económico e social como, uma vez mais, é demonstrado por todas as séries estatísticas internacionais. Em parte, a situação em Portugal, que se deve a atrasos seculares vários, tarda em transformar-se porque não se generalizaram ainda, entre pais e filhos, orientações positivas sobre a educação e a escola. Por isso, artigos e títulos como os do 24 Horas, bem como as frequentes tiradas demagógicas sobre “o país dos doutores”, dos “licenciados a mais” e das “vantagens da escola da vida”, ou outros disparates do género, são completamente irresponsáveis.
Irresponsáveis e pouco democráticos. Alguém reparou já que, em geral, quem teve sucesso na vida sem estudos preocupa-se em pôr os filhos a estudar, se possível nas melhores escolas nacionais ou, em fases mais avançadas do percurso escolar, no estrangeiro? Eles lá sabem…
Para saber mais, ver, de Pedro Portugal, o artigo “Mitos e factos sobre o mercado de trabalho português: a trágica fortuna dos licenciados”, publicado no Boletim Económico do Banco de Portugal, de Março 2004, pp. 73-80.
http://www.bportugal.pt/publish/bolecon/docs/2004_1_3_p.pdf