quarta-feira, 15 de junho de 2005

Sentido prático

Começam a surgir indícios de que, do turbilhão que será o próximo Conselho Europeu, pode resultar a decisão de parar para pensar, no que se refere à ratificação do Tratado Constitucional. Parece uma decisão do mais elementar bom senso.
No plano da lógica formal, dou razão aos que defendem que o não de dois países, por mais importantes que sejam, não deve impedir-nos de saber a opinião de todos os outros, que têm o mesmo direito a pronunciar-se.
Mas pode esperar-se conseguir a mobilização para aprovar, em particular nos países em que a ratificação passará por referendo, um Tratado que muitos legitimamente desconfiam que tem escassas ou nulas hipóteses de ver a luz do dia?
Os formalistas deviam ter-se lembrado de fazer a ratificação em simultâneo, se não queriam que as decisões de uns países contaminassem as dos outros. Com o calendário adoptado, tal contaminação é inevitável. Seria assim com o sim e pode ser assim com o não.
Só se deve avançar com o processo, nomeadamente em Portugal, quando houver propostas claras sobre quais as acções a tomar para que o Tratado, por ora gravemente ferido, algum dia possa ser adoptado. Quando tivermos saído da total indefinição que se vive neste momento quanto ás saídas para o, para já, duplo não. Gostava que essas ideias claras aparecessem no fim-de-semana, mas não creio que possamos ter a fasquia muito alta no plano da reforma institucional num Conselho tão propenso aos egoísmos nacionais como é aquele em que se discute quem deve pagar que parte da conta!
Ter sentido prático pode ser a última porta aberta a quem não queira matar o Tratado por obstinação crónica e perceba que os eleitores quererão a palavra quando sentirem que a sua opinião conta.