sábado, 10 de setembro de 2005

Ignóbeis do Canhoto [3]

Depois dos marcianos, vêm aí os genes! Pela mão de Nelson Lima, director do famoso Instituto da Inteligência (bem como da Academia do Futuro, “espaço de reflexão e de construção de caminhos para uma vida melhor, mais saudável e harmoniosa”).
Primeiro, foi a sábia proclamação de que a “a competência para a lógica-matemática tem uma base genética”, ou ainda, de que há uma “propensão genética para a matemática”. Quem pensar que esta é uma afirmação conducente à passividade engana-se, pois Nelson Lima sustenta que há algo a fazer, e com urgência: saber desde cedo quem está vocacionado para estudar matemática ou, em alternativa, letras. E assim resolver cedo a sua vida. Como? Fazendo um dos fantásticos exames ao seu potencial cognitivo no Instituto da Inteligência, que tem vários produtos para lhe vender. Saiba para o que está predestinado e não perca tempo ou ilusões com aquilo para que não presta!
Mais recentemente, em entrevista ao Diário Económico de 8 de Setembro, Nelson Lima avança com uma outra tese indiscutível, agora sobre a relação entre genética e diferenças comportamentais entre sexos. Citando:
“Por serem mais persistentes na concretização de objectivos, as mulheres podem dar excelentes gestoras, mas podem não ser tão boas líderes como os homens por serem mais emocionais.”
Tudo porque as mulheres têm um cérebro mais pequeno (tipo galinha?) e que funciona de modo diferente do cérebro dos homens (assim se explicando, aliás, a comprovadíssima azelhice das mulheres como condutoras). E conclui com uma pérola: “É preciso um choque educacional, reinventar a escola que temos, que foi feita de homens para homens e está muito masculinizada…”. Pois está, basta olhar para a estrutura por sexos do corpo docente no ensino básico e secundário!
E agora a sério. Esta sociobiologia de pacotilha não tem salvação possível. Como não a tem, embora com outro nível de elaboração, a milhas das intervenções de Nelson Lima, a sociobiologia académica: quando não é tautológica é primariamente funcionalista.
Mais um candidato, portanto, aos ignóbeis do Canhoto (embora não esteja entre os meus favoritos ao Ignóbel do Ano).