Se filho de peixe é peixe…
Angola, 1974. Sectores racistas nacionalistas, incluindo uma minoria do MPLA, clamavam na rádio e em comícios: “se filho de peixe é peixe, filho de colono é colono”. Mais de 30 anos depois, lembrei-me deste episódio pouco edificante, que mostra que o racismo (também) não tem cor, a propósito de alguns debates sobre políticas de imigração. Quer no que se refere às concepções sobre a nacionalidade originária dos filhos dos imigrantes, quer no que se refere à definição dos direitos dos filhos de imigrantes ilegais, a perspectiva que, hoje como ontem, tende a prevalecer não é muito diferente: “se filho de peixe é peixe, filho de estrangeiro é estrangeiro”; ou, ainda pior, “se filho de peixe é peixe, filho de ilegal é ilegal”.
Sobre a primeira analogia, já aqui me pronunciei criticamente por várias vezes. Sobre a segunda, a minha posição tende a radicalizar-se. Não há conciliação possível: se filho de peixe é peixe, filho de ilegal é gente. E gente com todos os direitos.