A volúpia da destruição e da morte
Obrigado André. Se não tivesse visto a referência à tua entrevista na capa d’ O Diabo (20/09/2005) não teria tido o prazer de voltar a ler, muitas décadas depois, um texto de Soares Martínez.
O tema é de elevada sofistificação, pois relaciona a implosão das torres de Tróia com o aborto, a Inquisição e a “conspurcação das fachadas dos edifícios”. Confuso? Tentarei resumir tão talentoso escrito.
Como todos sabem, um dos maiores inimigos da civilização é a “volúpia da destruição e da morte”. Ora, o que indicia a transformação da implosão das torres de Tróia em espectáculo televisivo? Acertou! Indicia a contaminação de Portugal pela “psicose da destruição e da morte”. Tal como, aliás, o retorno da controvérsia sobre o aborto.
Claro que estas coisas só acontecem porque já não temos Inquisição. Esta teve um papel fundamental reprimindo, “sobretudo, além dos comportamentos imorais dos clérigos, as práticas de feitiçaria, as liturgias pró-satânicas e os usos sexuais de pendor niilista que poderiam pôr em risco a continuidade da espécie humana. Entre elas a bestialidade e a sodomia”. Ao contrário do que foi posteriormente propalado, a sua actuação foi moderada. A prova? Na repressão da sodomia circunscreveu-se à homossexualidade. Ou seja, “a Inquisição e as leis velhas perseguiram as fontes de destruição e de morte”.
Como já não temos Inquisição, corremos o risco de uma vertigem autodestrutiva, patente na inacreditável possibilidade de aceitação da eutanásia e na infeliz despenalização do suicídio. Já sem falar que a tolerância “relativamente aos crimes de dano, incluindo depredações várias, sem esquecer a conspurcação das fachadas dos edifícios, revela o pendor colectivo para a destruição e para a morte”.
Melhor do que o Inimigo Público.