domingo, 9 de outubro de 2005

As estratégias autárquicas dos partidos (corrigido)

Sou um defensor de que os partidos vão sempre, como um todo, a votos em todas as eleições. Claro que apresentam candidatos locais (ou não), bons ou maus, mas todos tomam decisões de carácter nacional. O STAPE, incompreensivelmente, tornou dificil fazer leituras a esta hora, mas eu, para já, faço esta:

1. O PS decidiu desvalorizar as eleições autárquicas, o eleitorado correspondeu-lhe desvalorizando-o.
2. O PSD quis criar um cordão sanitário entre si e os rostos do populismo. Conseguiu, mesmo perdendo nos municípios em que ganharia com a estratégia oportunista que descartou.
3. O PCP jogou no low-profile. Os seus candidatos, hoje ganhadores, vários deles, apagaram-se e o partido jogou no descontentamento dos sectores que confiaram no PS para a maioria absoluta e dele se afastaram, em parte sem razão, em parte com ela, porque o caldeamento de medidas urgentes, necessárias, dispensáveis e gratuitas tornou dificilmente perceptiveis as intenções de reforma do governo.
4. Em Lisboa, o PSD conseguiu tudo o que queria: distanciou Carmona de Santana Lopes e ganhou a Câmara sem o CDS. O PS, o PCP e o BE só podem queixar-se de si próprios. Mas o PS tem responsabilidades especiais: descartou uma coligação que seria vencedora por pura arrogância, defendida militantemente pela estrutura local e consentida pela direcção nacional e pelo candidato por ela entronisado desde a campanha para as legislativas.
5. Amanhã, provavelmente, veremos melhor outros efeitos aparentemente locais de decisões partidárias: o Presidente da Câmara de Redondo que derrota o partido de que é militante (o PCP) e que lhe retirara a confiança política por aparelhismo fútil; o terceiro lugar do PS em Setúbal, apesar da mão que Vitorino foi dar ao candidato cujo mérito político é o de controlar ferreamente um punhado de militantes locais ;
6. Mas também teremos casos em que a justa combinação de decisões nacionais com trabalhos locais contrariou as tendências. O PS, por exemplo, em Faro ou em Estremoz. Mas outros casos aparecerão.

Podemos não querer fazer leituras nacionais dos resultados, mas os eleitores sugeriram-nas e os partidos sabem-no.
Falo pelo meu partido, o PS. Conseguimos ganhar menos câmaras municipais do que no desastre eleitoral autárquico de 2001 e achamos que se trata de puros movimentos locais? Se nada mudar depois desta noite, isso apenas quer dizer que o PS não quis ouvir. Oxalá assim não seja, mas se for, não nos admiremos se nos gritarem mais alto.