segunda-feira, 10 de outubro de 2005

As eleições autárquicas na vida futura dos partidos

Ponho a hipótese de que os resultados autárquicos se reflectirão nos partidos nas eleições que estão para vir. Estes darão passos para reforçar ou contrariar tais tendências, mas elas, parece-me, estão aí:

1. Lentamente, vai-se afirmando a mistura de eleitorados PSD-CDS, sobretudo no norte do país, onde o velho CDS tem mais implantação: a coligação espraia-se lentamente e tem efeitos ganhadores. Os eleitorados unem-se, os partidos encontrarão o caminho se as lideranças do CDS se afastarem da herança Portas-Monteiro. Recorde-se que o CDS é gerido por um ex-membro de um gabinete de um ministro de Cavaco Silva. A ver como evolui a frente da direita nas presidenciais e que estratégia assume para as legislativas.
2. O PSD circunscreve a sua pulsão populista e metamorfoseia-se em partido cosmopolita. Os santanistas fazem parte dos derrotados da noite, pois nem sequer podem gritar contra os "erros" de Marques Mendes. O PSD quer ocupar nas classes médias urbanas o espaço que o PS está a deixar vago (e de que o BE tem sido o único beneficiário).
3. O PS, convencido da sua missão redentora do país, isola-se e vai-se tornando num partido popular centrista. Que aliados procura para as reformas que são necessárias? Até agora tem caminhado apenas para os braços das microclasses médias das periferias urbanas e das cidades de província de que se alimentava no passado o PSD. Esta estratégia, corporizada há mais de uma década por Jorge Coelho e pela estrutura partidária que erigiu com sucesso, anima os dirigentes locais actuais, tem muito presente, mas pouco ou nenhum futuro.
4. O PCP continua a ser uma força de resistência. Como não tem visão de futuro, continuará a alimentar-se do sentimento de perda. Representa a esquerda conservacionista no seu melhor e será um agente bloqueador de qualquer projecto de esquerda orientado pelo futuro.
5. O BE chegou à encruzilhada. É preciso muito mais do que a retórica do líder para se manter à tona. Há uma enorme contradição entre o que pensam os seus eleitores e o que tem para lhes oferecer. Mais tarde ou mais cedo vai-se ver. Enquanto partido autárquico continua a ser um irrelevante fracasso e, de facto, uma barriga de aluguer. O impasse será mais grave se Louçã continuar sózinho e entalado entre o sectarismo recauchutado e o Joschka que não quer ou não consegue ser.
6. O CDS como partido autónomo morreu. É um MDP/CDE de direita com afloramentos locais e personalizados que são meras sobrevivências e carismas individuais.
7. Á atenção da esquerda: como vai a floresta de candidatos presidenciais explicar ao país que está unida numa mesma visão da Presidência da República, antagónica do projecto da direita unida?