quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Croácia na UE: o gesto do ilusionista

Na conferência de imprensa em que apresentou o acordo conseguido poara o início das negociações de adesão da Turquia, Jack Straw, o MNE do Reino Unido, repetiu várias vezes que não havia vencidos neste processo.
Num primeiro olhar, parecia tratar-se de uma delicadeza diplomática, face ao insucesso evidente da diplomacia austríaca, que só podia ter consciência de que as suas posições conduziriam ao bloqueio, que não conseguiu, da questão turca.
Mas Straw não estava a ser simpático, apenas reconheceu o sucesso austríaco no dossier Croácia. A Áustria, recorde-se, apoia vivamente a adesão deste país, que estava bloqueada até segunda-feira, por não cooperar com o TPI.
Por coincidência bastante conveniente e que deve ter dado muito trabalho a conseguir, no preciso dia em que a questão turca atingia o seu ponto mais alto, a task force da UE sobre a Croácia reuniu, a Procuradora-geral junto do TPI declarou que o país tinha passado a cooperar apesar de nenhum resultado prático ter sido conseguido e a UE deu luz verde à adesão do país.
Se virmos a maratona negocial dos MNE da UE do prisma croata, assistimos a um perfeito gesto de ilusionista: enquanto as atenções se dirigiam para o que se passava numa mão (o dossier turco), o truque (o levantamento das objecções à Croácia) realizava-se sem custos de maior perante uma opinião pública sensível aos direitos humanos, ocupada em discutir a Turquia.
Aceitam-se apostas sobre quanto tempo demorará a apresentar ao TPI o general croata que dizem estar refugiado algures num convento franciscano e por causa de quem a Croácia tinha sofrido esta sanção política.