quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Notícias da campanha

1. Jerónimo de Sousa acusou os deputados de se “aboletarem” com o subsídio de reinserção (quando abandonam o lugar) e contrapôs o seu exemplo: entregou o valor do subsídio ao PCP, uma vez que o povo o elegeu votando na CDU. E voltamos à demagogia populista no seu melhor: os políticos são todos uns malandros, excepto os do PCP, claro. Claro hoje, porque quando acabarem as trocas cruzadas de insultos NENHUM partido se salvará aos olhos da opinião pública, nem o PCP.
Entretanto, alguns comentários sobre aspectos menos óbvios das declarações do secretário-geral do PCP. Em primeiro lugar, sendo Jerónimo de Sousa funcionário do PCP antes e depois de passar pela Assembleia, deve dizer-se que o que este na realidade fez foi entregar o subsídio que recebeu à entidade patronal. Deste ponto de vista, não parece grande exemplo.
Em segundo lugar, é precisa muito candura para apresentar publicamente como comportamento exemplar a utilização de um subsídio para fins diferentes dos da sua concessão. E, já agora, pergunto eu com igual candura: é compatível com a lei em vigor o financiamento dos partidos com subsídios atribuídos aos deputados para a sua reintegração profissional? É que se Jerónimo de Sousa entende que este subsídio é ilegítimo, não se compreende que em lugar de o devolver à Assembleia tenha agido de modo a que o Partido com ele se “aboletasse”.

2. Ao contrário do que acontece com o TGV, de que sou adepto entusiasta, tenho as maiores dúvidas sobre a Ota. Maria José Nogueira Pinto não tem dúvidas: para ela, a construção do novo aeroporto da Ota é um erro. Está no seu direito. Escusava era de fazer batota na argumentação.
Em reportagem da SIC, foi possível ver ontem Maria José Nogueira Pinto demonstrar o erro da Ota viajando de táxi do centro de Lisboa até ao local do futuro eventual aeroporto, e concluindo que se demorará muito tempo a lá chegar até porque os acessos são péssimos! Pois são, sobretudo os que não estão ainda construídos… O raciocínio é da mais elevada sofisticação: equivale a ir hoje em comboio ronceiro até Madrid e concluir que não vale a pena o TGV pois, como se vê, demora muito tempo chegar a Madrid por comboio.