O caudilhismo descobre-se
Nuno Morais Sarmento traça, numa entrevista ao Diário Económico que vale a pena guardar, o programa político do caudillhismo à portuguesa, em versão cavaquista.
O fato (o hábito, diria o António Dornelas no post em que parecia prever a entrevista) tem o seguinte talhe: Presidente eleito por dez anos; programa presidencial que se sobrepõe ao do governo; demissão do governo caso o Presidente ache que não obedece às suas directrizes; demissão do Presidente caso o governo seja reconfirmado em legislativas.
A nossa democracia ficaria assim: se os partidos se opusessem ao chefe, este demitia o governo e as eleições subsequentes eram um plebiscito à sua decisão em vez da discussão de projectos para o país.
Tudo isto é o contrário do nosso sistema constitucional, tudo isto é o início de um programa de tutela caudilhista da democracia e tudo isto este apoiante de Cavaco Silva acha que pode ser iniciado com a eleição do seu candidato, desde que ele o anuncie já, dispensando-se o jurista sequer de tecer considerações sobre as minudências constitucionais que tolhem a sua proposta e os jornalistas de lhe colocar questões sobre elas.
Já ninguém pode dizer que a direita não começou a explicar o que quer das próximas eleições presidenciais.