Respostas sobre os rankings
Três notas de resposta a vários comentários aos textos anteriores, sem e com imagens.
1. Para começar, a “diabolização” da escola com apoio Opus Dei. Não é crítica séria, pois quem começou por assim identificar o Colégio Mira Rio foi o Público, assinalando esse apoio no contexto da explicação sobre as razões do sucesso do colégio. E é essa utilização insidiosa da referência religiosa para explicar o sucesso das alunas do Colégio que eu contesto, sobretudo quando confrontado com a dimensão da escola em causa e com a ausência de contestação ao procedimento do Público. Agora, não vale é pôr-se a jeito e, depois, fazer papel de virgem ofendida.
2. Como é ainda menos sério imputar-me “raiva por ter sido uma escola com cujos princípios não concord[o] a conseguir melhores médias”. O que me deu “raiva” foi a lata de se considerar pertinente a comparação entre uma escola com meia dúzia de alunos e escolas com mais de mil alunos. Aceitando, para efeitos desta argumentação, a utilidade de uma classificação única das escolas, que, ao menos, se compare o que pode ser comparado. E, nomeadamente, comparem-se diferenças que se expliquem sobretudo pelo desempenho desigual das escolas e não por outras causas. Comparar os resultados de centenas de alunos com os de meia dúzia e retirar daí conclusões sobre os méritos relativos de cada escola seria o mesmo que fazer um ranking de atletas misturando homens e mulheres e depois exultar com a esmagadora vitória dos homens. Esquecendo que não seria legítimo comparar desempenhos físicos sem distinguir homens e mulheres porque assim se confundiriam méritos dos atletas com vantagens de partida indiferentes ao desempenho de cada um. Uma escola com dezenas de alunos tem vantagem sobre uma com várias centenas, independentemente do mérito da sua actuação.
3. Paciência, dirão, pois o que interessa não é saber quais são as escolas melhores e piores? Não, pois saber que uma microescola privada tem os melhores resultados é informação apenas curiosa. De facto, para os defensores dos rankings das escolas estes serviriam para orientar as chamadas escolhas dos pais, escolhas impossíveis na prática se as melhores forem, por definição, dada a sua dimensão e custo, inacessíveis à maioria da população. Reafirmo, por isso, que os resultados dos alunos de uma escola com 20 alunos devem ser comparados com os resultados dos 20 melhores alunos das escolas maiores — pois os alunos da microescola foram seleccionados, à entrada, pela oferta de um número reduzido de vagas e por custos de ensino mais elevados. E entenda-se bem, de uma vez por todas: não é o eventual mérito absoluto do Colégio Mira Rio que está em causa nestes comentários, mas sim o seu mérito relativo numa comparação sem critério com escolas de todas as dimensões e com populações escolares muito heterogéneas.
Para concluir. Criticar e ridicularizar os chamados rankings das escolas não é o mesmo que recusar a necessidade de avaliação das escolas! Mas avaliar é coisa mais séria do que transformar notas de alunos em notas de escolas e ordenar estas numa única lista sob o pretexto da assim orientar as escolhas educativas dos pais.