terça-feira, 15 de novembro de 2005

Emprego, imigração e integração

Rodrigo Costa responde à minha crítica aos seus comentários (aqui e no seu blogue) sobre política de imigração:
Para perpetuar ainda mais o debate contraponho os três erros enunciados:
1. Para além de os emigrantes serem produtores de riqueza, são, antes de mais, consumidores de emprego.
2. Existe sem dúvida desigualdade, mas o excesso de mão-de-obra e a crescente crise de emprego catalisam ainda mais as desigualdades e a xenofobia.
3. As dificuldades de integração, no meu ponto de vista, não têm como causa única o estado. Passa também pela população europeia que abre os braços a emigrantes "europeus" e volta as costas aos restantes. Passa ainda e também pela vontade e empenho dos próprios emigrantes na sua efectiva integração.


Comentário
A contra-resposta de Rodrigo Costa, na polémica que temos travado a propósito dos motins em França, é interessante pois mobiliza boa parte dos argumentos equívocos mais comuns nos debates sobre políticas de imigração.
Em primeiro lugar, o argumento do emprego. A ideia de que o mercado de trabalho é um mercado de concorrência perfeita está há muito abandonada. Não é verdade que imigrantes e autóctones compitam pelos mesmos postos de trabalho, pelo que o crescimento do desemprego tem outros factores. No caso português, aliás, uma parte da possível concorrência pelo emprego é ainda mais reduzida devido à emigração de portugueses para outros países da UE onde ganham bem mais pelo mesmo tipo de trabalho (com a vantagem de, lá fora, sem o controlo social local, não terem de defrontar o problema da desonra do posto).
Em segundo lugar, não sei como se mede o “excesso” de mão-de-obra. O emprego pode sempre baixar, nomeadamente em períodos de reconversão modernizadora da economia. Mas se houver essa reconversão haverá sempre algum desemprego por desencontro entre qualificações dos postos e qualificações dos trabalhadores. É verdade, no entanto, que em períodos de crise tende a crescer a xenofobia, pois há sempre quem, populisticamente, use a crise para ganhar politicamente à custa de um qualquer bode expiatório. Mas isso nada tem a ver com imigração, pois se não houver imigrantes haverá um outro qualquer para transformar em inimigo.
Finalmente a questão da integração. É verdade que boa parte dos problemas de integração enfrentados por imigrantes têm origem no racismo. Por isso ninguém ouviu falar em problemas de integração dos holandeses em Portugal (mesmo que os haja). Mas o papel do estado é reduzir as condições do racismo, não ampliá-las. E o prolongamento da situação de estrangeiro dos imigrantes, consagrado nas concepções europeias da nacionalidade, amplia a nossa percepção do imigrante como outro, contribuindo, ainda que involuntariamente, para naturalizar o racismo e a xenofobia.
Tal como, aliás, a paranóia classificatória do multiculturalismo, uma das ideologias “outristas” mais equívocas que conheço, agora infelizmente descoberto como o modelo para a política portuguesa de integração dos imigrantes.
Mas disso falarei em breve.