terça-feira, 8 de novembro de 2005

A expressão soava-me vagamente familiar #2

O pano de fundo em que as palavras do actual slogan de Cavaco Silva foram usadas no século passado evoca, definitivamente, um imaginário oposto do pensamento laico, moderno, cosmopolita e democrático que deve caracterizar a República do século XXI.
Depois de o ter descoberto nas doutrinas da Mocidade Portuguesa Feminina, encontrei a origem ideológica do uso que aí se fazia. Nem mais nem menos do que o Integralismo Lusitano que, para quem não saiba, era monárquico, tradicionalista e anti-democrático.
Num ensaio de André Ventura, que pode consultar aqui, recorda-se o contexto religioso da expressão “Portugal Maior”, com a qual António Sardinha (que a usou outras vezes com o mesmo sentido) queria defender a sua visão tradicionalista e anti-liberal, combatendo a que a modernidade propunha, reduzida à imagem de erva daninha recente e ameaçadora. Escreve Sardinha:

Para que a visão cristã do Portugal Maior se descubra diante de nós, importa que se areje a torre fechada em que nos torcemos — importa que se destrua nas pregas mais insignificantes da nossa sensibilidade ou do nosso conhecimento qualquer raíz daninha que para lá bracejasse.
(António Sardinha, Ao Princípio Era o Verbo, citado por André Ventura, Integralismo Lusitano. Subsídios Para Uma Teoria Política, pp. 57-58)