Visitas ou novos membros da família?
Segundo Salgado de Matos (Público, 07/11/05), os distúrbios em França explicam-se pela recusa dos imigrantes em serem franceses. Isto, apesar de os “franceses pressuporem que todos os imigrantes querem ser franceses”. Estaríamos, pois perante um caso claro de amor não correspondido.
Estas afirmações de Salgado de Matos baseiam-se em nada (e as feitas sobre Portugal baseiam-se na ignorância pura e simples). Se há algo que falta, em todos os países europeus, é, exactamente, uma política de transformação dos imigrantes e seus filhos em novos cidadãos europeus. A começar pela lei da nacionalidade que, em França como em todos os países europeus, não reconhece automaticamente a nacionalidade do país de destino aos filhos dos estrangeiros aí nascidos, desde o nascimento. Por outras palavras, as políticas europeias de imigração e de nacionalidade prolongam no tempo, o mais que podem, a situação de estrangeiro dos seus imigrantes. Ao contrário dos EUA e dos novos países de imigração em geral. Depois estranha-se o contraste entre o patriotismo precoce dos novos americanos e a persistência de uma identidade de outsider entre os imigrantes europeus.
Não é por recusarem a França que os jovens da “segunda geração” a incendeiam, mas porque a França lhes foi recusada. E não porque a França os tenha recebido mal, mas porque os tratou sempre como visitas, nunca aceitando que fizessem parte da família. Como em Portugal.