segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

As bandeiras da extrema-direita

Quando se descobre que o movimento skin de extrema-direita muda de táctica, suspendendo a violência e substituindo-a pela propaganda dirigida (sobretudo) aos jovens, surge, de imediato, a interrogação: propaganda de quê? Quais as bandeiras políticas levantadas pelos skins e pelas organizações a que estão ligados? Uma simples consulta aos seus sítios na Net, ou aos blogues dos seus membros mais conhecidos, revela a existência de duas grandes bandeiras políticas: a do nacionalismo e a do combate à corrupção.
A bandeira do nacionalismo necessita sempre, para mobilizar, de um inimigo da Nação. Externo ou interno. No caso dos skins portugueses esse inimigo, simultaneamente interno e externo, é o imigrante, responsabilizado pelo desemprego e pelo crime, independentemente de qualquer prova dessa responsabilidade. Em lugar da prova apela-se emocionalmente à “devolução” de “Portugal aos portugueses” e acusa-se a imigração de corromper a raça. A defesa da “terra branca” ou o levantar das “bandeiras raciais” são frases reveladoras do racismo enquanto base do nacionalismo da direita skin.
Em segundo lugar, o argumento da corrupção e da imoralidade da política nacional. Os partidos parlamentares são acusados de “distribuir benesses e tachos” e de “não servirem o país mas de se servirem do país para os seus interesses particulares”. À corrupção da raça soma-se a corrupção do dinheiro, à pretensa invasão estrangeira soma-se a pretensa decadência das elites.
Estas são as bandeiras da extrema-direita, hoje, em Portugal. São bandeiras que aproveitam com facilidade o discurso populista irresponsável que actualmente domina a referência à política e aos políticos, bem como a representação da imigração como ameaça identitária. Aumenta, por isso, a responsabilidade de políticos, jornalistas e cronistas. O argumento hoje fácil contra a política e pela Nação pode facilitar amanhã as ideologias extremistas da (ainda) incipiente extrema-direita nacional.

[Versão com ligeiras correcções de um comentário publicado hoje no DN. As citações deste texto foram retiradas de páginas e blogues da extrema direita. Desta vez, como em Junho, não há links para essas páginas, pois, não sendo parvos, recusamos qualquer participação na difusão das ideias aí defendidas.]