sábado, 10 de dezembro de 2005

O que de fundamental nos separa

Já aqui me queixei de que só somos parecidos com os EUA nas coisas más (e bom seria que fossemos parecidos nas boas). Mas há excepções, que isto de estar na Europa tem grandes vantagens.
Na sequência do 25 de Abril, Portugal percorreu um caminho de mudança para melhor que é muitas vezes subvalorizado. A redução da taxa de mortalidade infantil exprime, melhor de que qualquer outro indicador, o que já se conseguiu nesse caminho e não pode ser perdido. Em 1970, Portugal tinha uma taxa de mortalidade infantil ao nível do subdesenvolvimento em que vivia: 30 anos depois, estávamos entre os países com melhores taxas (9.º em 2003 entre os países classificados pelas Nações Unidas como de elevado desenvolvimento humano).




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Evolução da taxa de mortalidade infantil em Portugal, na Dinamarca e nos EUA, 1970-2003 (por 1000 nados-vivos)
Fonte: PNUD, Human Development Report 2005


De caminho deixámos para trás os EUA (37.º na mesma classificação). Não porque os americanos tenham beneficiado menos dos progressos da medicina do que outros países desenvolvidos, como o revela o paralelismo total entre a evolução das suas taxas e a evolução das da Dinamarca (2.º lugar na mesma classificação). Mas porque a taxa é uma média das taxas desiguais que coexistem no mais desigual dos países desenvolvidos. A surpresa está em que, no plano da distribuição do rendimento, Portugal é também muito desigual: é o mais desigual dos países da UE e o segundo mais desigual dos países ricos da OCDE (logo atrás dos EUA). A diferença é no entanto fácil de explicar e exprime tudo o que de fundamental separa UE e EUA no mundo desenvolvido de hoje: em Portugal, as políticas sociais igualizam condições básicas de vida que nos EUA permanecem desiguais.
E desta igualdade mínima não estou disponível para prescindir. Só para incrementar…




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Taxa de mortalidade infantil nos países de elevado desenvolvimento humano, 2003 (por 1000 nados-vivos)
Fonte: PNUD, Human Development Report 2005