Raio de realidade #1
No texto que publiquei aqui no Canhoto, “O que de fundamental nos separa” (sábado, 10 de Dezembro de 2005), explicava-se do seguinte modo o facto de Portugal apresentar uma taxa de mortalidade infantil inferior à dos EUA: “em Portugal, as políticas sociais igualizam condições básicas de vida que nos EUA permanecem desiguais”.
Em resposta, um comentador anónimo [11/12/05, 16:41] desvalorizava o progresso conseguido pós-25 de Abril argumentando que em Portugal isso se deveria à inexistência de limites aos gastos públicos: “Com 5 milhões de euros por dia durante anos a fio, pois muito mal seria se os índices fossem outros”. No mesmo sentido, G. Mbeki argumentava que haveria um défice de eficiência na utilização dos fundos públicos e concluía perguntando: “Não poderíamos estar muito mais à frente? Não tenho dúvidas de que sim”.
Neste caso não têm razão os comentadores. Eu sei que, contra as ideias-feitas, a realidade é chata, mas a verdade é que, em 2002, Portugal e os EUA gastaram, em termos relativos, o mesmo com a saúde (6,6% do PIB). O que, em termos absolutos, significa um gasto per capita com a saúde nos EUA (5274 dólares ppc) mais de 3 vezes superior ao de Portugal (1702 dólares ppc). Grave problema de eficiência na utilização dos dinheiros públicos existe pois, neste domínio, nos EUA mais do que em Portugal.
Raio de realidade…
[Fonte dos dados citados: Human Development Report 2005]