segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Raio de realidade #2

As explicações sobre os diferenciais de produtividade do trabalho não são simples. Por exemplo, não traduzem necessariamente, nem frequentemente, diferenças de intensidade de trabalho do trabalhador. Influenciam a produtividade o valor acrescentado do produto, a qualidade da organização, a qualificação do trabalho, etc., etc. Variáveis que, em geral, são sinónimo de dinamismo económico mais do que de estagnação, como referi no texto “Produtividade” (publicado no Canhoto em 7 de Dezembro de 2005).
Um comentador dextro (Luís M. Jorge) não gostou do argumento e decidiu opor-lhe um contra-argumento geral sobre a relação entre produtividade e desemprego: “Quem tem maior desemprego ganha automaticamente uma vantagem estatística, porque os habitantes que conseguem trabalhar são mais qualificados e produzem mais.

Existindo relação entre desemprego e produtividade, convém não a pensar como “automática” e universal, pois é muito fácil encontrar exemplos contrários. Como o da Irlanda, caso tão do agrado deste argumentário liberal, onde, durante 8 anos, entre 1993 e 2001, a produtividade subiu e o desemprego desceu. Onde, em 2003, a produtividade era ainda superior à média da UE e o desemprego inferior.
Raio de realidade…


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Irlanda: evolução da produtividade/hora do trabalho e da taxa de desemprego, em percentagem da média da UE15, 1994-2003
Fonte: Eurostat, Structural Indicators