terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Terrorismo

Citação
Lisboa, 21 de Dezembro de 2005: Ribeiro e Castro, líder do CDS, afirma que “o terrorismo tem origem numa deriva totalitária extremista e cruel cuja raiz de pensamento é de esquerda”.

Memória
Bolonha, estação ferroviária, 2 de Agosto de 1980, 10 horas e 25 minutos: uma bomba explode na sala de espera, cheia de veraneantes em partida para férias, matando 85 pessoas e ferindo mais de 200, para além de provocar a derrocada da ala esquerda do edifício. Valerio Fioravanti e Francesca Mambro, dois militantes do grupo terrorista de extrema-direita NAR (Novo Exército Revolucionário), tinham acabado de cometer o atentado que mais mortes causaria em toda a história de Itália.

Comentário
Este exercício de memória sobre a história recente da pátria das Brigadas Vermelhas torna ridículas as declarações de Ribeiro e Castro. Mas não só, ele ajuda-nos ainda a perceber que é inútil invocar problemas de integração ou confrontos civilizacionais quando se pretende explicar a frieza dos ataques terroristas, como se fez a propósito dos atentados de Londres. Eles, os terroristas, estiveram e estão entre nós e actuam movidos por ideologias totalitárias, sejam elas na sua origem de esquerda ou de direita, seculares ou religiosas, e fazem-no tanto contra o Estado como a seu mando.
Contudo, o que é estranho na intervenção de Ribeiro e Castro não é tanto a manifestação de ignorância, surpreendente num dirigente político experiente, ou a inábil tentativa de manipulação, imperdoável, mas os objectivos que pretendia quando, mais adiante, afirmou que esta conclusão (de que a raiz do terrorismo é de esquerda) deve “estar presente no consenso contra o terrorismo”. Um consenso contra a esquerda a coberto da luta contra o terrorismo?!