Palestina: oxalá haja outro caminho para a paz
A vitória do Hamas na Palestina, num segundo olhar e vista de longe, é apenas mais um passo na situação paradoxal da questão israelo-palestiniana.
Enterrados os acordos de Oslo com o assassinado Rabin, a Fatah perdeu o ponto em que se ancorou a sua transição para a luta política e o reconhecimento de Israel, a possibilidade do diálogo.
Segundo todos os relatos, a Autoridade Palestiniana, controlada pela Fatah, estava minada pela corrupção, para não falar dos efeitos corrosivos que só por si resultariam de ser um governo impotente numa terra ocupada, cercada, sitiada.
Em democracia, quem está mal, muda. Na Palestina, há muito que apenas o Hamas é alternativa. Por isso, só para aí poderiam mudar os palestinianos. Embora essa mudança, vista daqui, pareça um passo suicida.
O Hamas construiu a sua alternativa política baseada na gestão eficiente dos recursos que lhe são postos à disposição, na administração de uma rede de equipamentos sociais e de apoio às famílias, numa inflamada retórica anti-israelita.
Pode bem ser que o povo mais laico do mundo árabe não tenha votado no islamismo, mas apesar do islamismo. E pode bem ser que os dirigentes do Hamas percebam que é esse o mandato que receberam, aproximando-se mais do que fizeram os islamistas turcos quando chegaram ao poder do que dos seus financiadores.
Se assim não for, os palestinianos atiraram uma garrafa de gasolina para o meio de um país a arder e sofrerão pesadamente as consequências. Porque, pela força, está demonstrado que o unilateralismo israelita é superior.
Não há nada para festejar na vitória do Hamas, nem vale a pena repetir que a Autoridade Palestiniana foi, em primeiro lugar, minada por quem não cumpriu o que assinou em Oslo (e não foram os palestinianos).
Há apenas uma certeza, mortos Rabin e Arafat, o caminho que construíram — então apenas o acordo que assinaram — foi agora enterrado irreversivelmente. Começa tudo de novo. Oxalá que o Kadima e o Hamas saibam construir outro caminho, por muito paradoxal que tal possibilidade pareça, vista a esta distância.