A “regeneração” e os seus equívocos
Na capa do Expresso deste fim-de-semana, é atribuída a Manuel Alegre uma afirmação curiosa: “os partidos não se auto-regeneram”.
Deixemos de lado a questão de saber como se podem regenerar e por quem – apenas respondida à partida, claro, se assumíssemos que não há “regeneração” possível.
Vinda de alguém que é militante, e aliás dirigente destacado, de um partido em concreto há mais de trinta anos, alguém que é eleito sucessivamente deputado nas suas listas e que foi candidato à liderança há pouco mais de um ano, esta frase só pode significar que um qualquer projecto de regeneração da vida partidária não o terá como protagonista. (Nem poderia ter porque faria sempre parte de uma “auto-regeneração”). A “ponderação” de abandono dos cargos directivos e a indecisão sobre o que fazer com o cargo de vice-presidente da Assembleia da República (deixado à sorte de "menos de 50% de hipóteses") são, de resto, indicadores de que não estariam neste plano político as principais motivações da recente candidatura presidencial.
Mas, não sendo assim (o que para alguns não será propriamente uma novidade), não se percebe então qual o alcance de todo este percurso. Que continua, entretanto, com mais um equívoco: repetindo o discurso anti-partidário e “anti-sistema” que tantos votos rendeu, é agora lançado um movimento “transversal” fora do(s) partido(s). Fora, mas inspirado por alguém que fez toda a sua carreira num partido, que vai ser dirigido por uma militante do PS e que terá entre os seus potenciais aderentes, sobretudo, militantes e simpatizantes da área socialista. São equívocos a mais.
A renovação continuará, pois, com os protagonistas que estiverem dispostos a assumi-la. E a saber merecê-la.