Política e religião, mistura explosiva
O debate sobre a publicação dos cartoons de Maomé não é teológico, mas sobre liberdade e responsabilidade. Estou entre os que acham que os interditos religiosos apenas podem ser válidos para os seus crentes. Quando os queremos passar para interditos morais, exprimimo-lo na lei e derrimimos os conflitos sobre a lei nos tribunais. Portanto, o que não for punido pela lei, pode ser de muito mau gosto, mas não pode ser interditado e a liberdade de o fazer tem que ser defendida. Sem isso, começa a deixar de haver Estado de Direito.
No entanto, quando se procura minimizar a dimensão política invocando a interdição religiosa, vale a pena, subsidiariamente, analisar o argumento. Não sou teólogo, muito menos do islamismo, mas o que sei chega-me para ter a noção de que o islamismo, como todas as outras grandes religiões universais, não é o mundo a preto e branco que Jack Straw e Freitas do Amaral tentam pintar. O artigo que, com a ajuda do google news apanhei no Seattle Times e de que destaco este extracto, ajuda a perceber quanto a redução do político ao religioso é falaciosa e usa o argumento simplificador da guerra de civilizações que pretende evitar:
There are several traditional legal interpretations within Islam regarding blasphemy, said Dr. Khaled Abou El Fadl, an Islamic legal scholar at UCLA Law School. The most extreme Muslims believe that blasphemy is punishable by death unless the perpetrator apologizes, while other schools of thought recognize the right to blaspheme, referencing Quranic verses that suggest that men need not seek retribution for defamation or mockery of Muhammad because God is his protector, El Fadl said.
In fact, books are sold in Egypt, Syria and other Muslim countries that are critical of Muhammad, but these don't spark protests, El Fadl said. Perhaps that is because the cartoons are seen by Muslims as the latest in a long line of Western crimes against them, he said. As examples, he cited colonization and the ethnic cleansing of Bosnian Muslims as well as more recent images of the U.S. invasion of Iraq and perceived western Islamophobia. (sublinhado meu)