segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Só falta um…

Há uma semana tinha apostado que Mário Pinto, João César das Neves e António Bagão Félix iam escolher o campo do ataque à liberdade de imprensa. Aposta quase ganha (embora com atraso).

1. Hoje, segunda-feira, no Diário de Notícias, João César das Neves critica enfaticamente os que designa por “fanáticos laicos”: “A principal diferença entre fanáticos é que os religiosos são desequilibrados mas fiéis à sua fé, enquanto os laicos violam o seu próprio dogma de tolerância. Estes, para quem a liberdade é mais sagrada que Deus, estão dispostos a incendiar o mundo pelo direito à caricatura.
No Público, é Mário Pinto quem lembra que “há coisas com que não se brinca”. E, claro, entre essas coisas estão o que chama “as ofensas à religião ou a Deus”, em particular a “blasfémia”. A cereja no topo do bolo é a invocação de Saramago em suporte desta tese.
Só falta Bagão Félix. Enganei-me ou terei andado distraído?

2. Para que fique claro.
César das Neves só tem razão num ponto, eu sou dos que privilegio a liberdade a Deus, qualquer Deus. Escolha que tem a vantagem de permitir a escolha dos outros, o que nem sempre acontece quando Deus prevalece sobre a liberdade. Como se viu.
Mário Pinto, por seu lado, não tem qualquer razão. O problema da blasfémia só existe para os crentes, pelo que não faz sentido falar de um interdito ou de um direito a propósito das imagens que os não crentes constroem sobre Deus e a religião. Mais concretamente: a blasfémia só pode ser objecto de direitos e deveres com expressão jurídica em sociedades onde não haja separação clara entre Estado e Igreja. Qualificar e penalizar como blasfémia a intervenção de um não crente seria abolir essa separação.