As últimas revelações
Jorge Sampaio deu ao DN a entrevista que o António Dornelas já salientou. Concisa, contida, ponderada como seria de esperar do protagonista e da visão que tem das suas responsabilidades. Mas também deixando em aberto todas as questões que estavam em aberto, menos as que se prendem com a nomeação e a demissão de Santana Lopes. Nesses pontos, depois deste testemunho, há várias personalidades interpeladas.
O então presidente do PSD, Durão Barroso, alguma vez ponderou propor ao partido a indicação das personalidades alternativas que mais agradariam à iniciativa presidencial? Que mecanismos partidários inviabilizaram a sucessão por Ferreira Leite? Marcelo só terá sabido hoje que era um primeiro-ministro visto com bons olhos para o lugar pelo seu antigo adversário na Câmara Municipal de Lisboa?
O então secretário-geral do PS demitiu-se depois de semanas de hesitação presidencial que afinal não existiu. O testemunho dos seus assessores é oferecido pelo Presidente como penhor do que diz. Ao fim de trinta anos, Ferro compreendia tão mal Jorge Sampaio que atribuiu significado político radical a uma simples demora por hábito de explorar até aos limites as consequências das decisões tomadas. Que terá, quando chegar o momento adequado, o ex-líder do PS a dizer em defesa do acerto político da sua decisão?
Mas a grande revelação desta entrevista é a de que Santana Lopes caíu porque deixou de contar com o apoio sólido do CDS. Que indicações deu Paulo Portas, que Sampaio tão bem conhece desde a infância, que se tenham revelado tão importantes? Como pôde o CDS verberar tão fortemente a decisão de dissolução da AR quando foi, afinal, um dos seus principais responsáveis? Terá o CDS tirado o tapete à política orçamental de Bagão Félix? Ou a falta de solidez do apoio do CDS a Santana radica noutras figuras do CDS que não em Portas? Quais? Sampaio informou o Primeiro-Minsitro Santana Lopes desses sinais? Como reagiu o Primeiro-Ministro Santana?
Jorge Sampaio aumentou a minha expectativa em relação aos próximos serões televisivos do homem que podia agora ser nosso primeiro-ministro, Marcelo Rebelo de Sousa e do homem que pode ter contribuido decisivamente para a queda de Santana Lopes, Paulo Portas.
Fico agradecido a não sei ainda quem do CDS. Se não fosse(m) essa(s) pessoa(s), amanhã poderiamos ter Cavaco Silva como Presidente e Santana Lopes como Primeiro-Ministro.