Classe e raça
O comentário do Hugo a “Traduções”, argumentando que se não faz sentido classificar racialmente então também não faz sentido produzir estatísticas sobre as classes, não tem qualquer razão de ser: as classes são mais do que classificações, enquanto a raça começa e acaba por ser uma classificação. A classe existe para além da classificação, a raça não. E, já agora, há indicadores sobre classes sociais mas não há classificações censitárias em termos classistas (ou não vivessemos hoje muito para lá do fim do Antigo Regime!).
Nao se trata pois de querer desconhecer a realidade do racismo (e não a da raça), mas sim de a conhecer por outros meios que não os da classificação de toda a população em termos raciais. Havendo mais metodologias para conhecer o racismo, bem como outras formas de discriminação do que a produção de estatísticas racializadas, insistir na indispensabilidade da classificação censitária em termos etno-raciais para combater o racismo não é sério.
Convirá ainda ter o sentido da responsabilidade política que falta nas derivas tecnocratas: se para conhecer as discriminações tivéssemos, sempre, que classificar censitariamente todas as pessoas em função de todos os critérios usados para discriminar, passaríamos a viver num estado totalitário.