quinta-feira, 16 de março de 2006

Esperar que a tempestade passe



















O PSD apresentou esta semana uma proposta para tornar mais curtos os debates mensais com o primeiro-ministro na Assembleia da República. Por exemplo, reduzindo uma das rondas de perguntas a que os grupos parlamentares têm direito.
É no mínimo estranho que num contexto de maioria absoluta o maior partido da oposição pretenda diminuir o principal espaço de que dispõe de modo regular para confrontar directamente o chefe de Governo. Argumenta o PSD, pela voz de Marques Guedes, que "os debates se estendem por muito mais de três horas" e que se "tem tornado difícil suscitar o interesse e a atenção durante aquele tempo todo". De tal modo que o actual modelo "é extenuante até para o primeiro ministro". Não se vê como é que encurtar um debate pode contribuir para o tornar mais rico (já a maior disciplina nos tempos de intervenção, também proposta, faz sentido). Quanto à preocupação com o "cansaço" de José Sócrates chega a ser comovente; e mostra, aliás, de grande generosidade.
As razões para tanta preocupação, porém, e para a súbita vontade de encurtar os debates (e, assim, o espaço de confronto com o Governo) é que são mais obscuras. Provavelmente, aliás, serão mais um sinal de que nem tudo vai bem na liderança do PSD.
É certo que os debates parlamentares com o primeiro-ministro têm sido sistematicamente maus para Marques Mendes, mesmo perante um Governo que passou por momentos difíceis ao longo do seu primeiro ano. Mas Mendes aparece pouco fora deles, aparentemente por escolha táctica e também porque na oposição as condições para marcar a agenda são bem menores. Se, agora, abdicasse também do espaço parlamentar, que frente restaria a Marques Mendes?