A euforia
Do Jornal de Negócios ao Correio da Manhã a hora é de "euforia": a bolsa bate recordes e, aparentemente, o sinal é lido com grande optimismo. Convirá, talvez, recordar algumas coisas.
Dos inúmeros balanços do primeiro ano de Governo, uma coisa parece ter ficado clara: a "confiança" dos agentes económicos está em recuperação. Por um lado, e parcialmente, nos indicadores de confiança sobre a evolução da economia. E, por outro lado, face ao próprio Governo. As declarações a este respeito de dirigentes das confederações patronais são elucidativas: o Governo parece ter ganho algum capital de respeito junto, pelo menos, das cúpulas económicas.
Por ocasião desses mesmos balanços, não faltaram também comentadores a mencionar uma "retoma" cujos sinais seriam já visíveis. As previsões de médio e longo prazo sobre a evolução estrutural da economia portuguesa são, no entanto, bem mais cautelosas. E é da máxima utilidade que não sejam postas de parte.
Num passado recente, sucessivos anúncios da "retoma" foram usados com uma arma política de consequências absolutamente catastróficas, quer no plano político quer na própria confiança dos agentes económicos. Durão e, sobretudo, Santana, jogaram forte neste tipo de estratégia; e, como era de prever, os resultados foram um desastre - para eles e para o país.
O mesmo se passaria agora: anunciar a "retoma" para breve é apostar num cenário hipotético demasiado dependente de factores externos para ser, hoje, uma leitura segura do que se vai passar. Sobretudo, se para esse discurso contribuir, por pouco que seja, a "loucura" da bolsa. A volatilidade dos mercados bolsistas é conhecida, a relação destes com a economia "real" é no mínimo variável e, no caso, sabe-se bem como o mercado português está muito dependente de poucos títulos e de intervenções de grande envergadura (como as sucessivas opa's).
Espera-se, pois, que a "euforia" contagiante que vai pela bolsa - e pelos jornais - não contagie mais ninguém.