O contraditório à portuguesa
Quando Rui Gomes da Silva desencadeou a crise final do santanismo com a lamúria sobre a falta de contraditório nos comentários televisivos não esperava os efeitos em catadupa que iria provocar.
É verdade que o governo foi demitido, mas também não é mentira que Marcelo mudou de estilo (e de canal) e a direcção do Expresso caiu.
Agora há contraditório? Á portuguesa, com a palestra do flanco direito por Paulo Portas, a do erigido ponta de lança Marcelo e a do readaptado a extremo-esquerdo António Vitorino. O panorama televisivo está claramente à direita do eleitorado e arrisca transformar jornalistas sérios e respeitados em compéres. As televisões podiam ao menos jogar com dois pontas de lança e abrir espaço a um extremo-esquerdo que goste do lugar. O que seria se no rescaldo das presidenciais lançassem, por exemplo, Mário Soares ou Manuel Alegre na função?
Mas, sobretudo, a frente de ataque televisiva faz-nos ter saudades dos debates entre Sócrates e Santana, para não falar dos que até parecem de outra galáxia como o que ainda ontem à noite a RAI Uno mostrou entre Massimo D'Alema e Gianfranco Fini.