O regresso da boa moeda?
Há cerca de um ano e meio, Cavaco Silva saiu de uma longa letargia para escrever um artigo indigente no Expresso onde sublinhava uma pretensa decadência da actual classe política, recorrendo à dicotomia entre boa e má moeda. Não sei bem qual era o termo de comparação em que pensava. Talvez algum período mirífico, desconhecido da história portuguesa. Naturalmente que o artigo foi muito elogiado. Em parte por que há quem genuinamente pense que agora tudo é pior do que antes e, claro, porque muitos viram um interesse instrumental em cavalgar o impacto do artigo para nos vermos livres do episódio Santana Lopes. Mas o artigo era apenas o princípio do que viria. Chegada a campanha presidencial, a boa moeda encontrou na candidatura suprapartidária o seu equivalente funcional. O país, enquanto destila compreensível ódio a tudo o que lhe cheire a políticos e a partidos, regozijou mais uma vez com a ideia. O problema é que chegou um momento em que a saga de Cavaco se tornou mais difícil de continuar. Uma vez Presidente, havia que formar a casa civil. Esperava-se naturalmente que esta estivesse repleta de boa moeda e de moeda suprapartidária. Mas não é que nada disso aconteceu. Até agora, o que se tem assistido é à nomeação de ex-governantes do PSD (dois ex-ministros e três ex-secretários de estado) e de vários assessores dos governos de Durão Barroso. Para boa moeda e moeda suprapartidária não está mal.