terça-feira, 21 de março de 2006

O CPE e o desemprego juvenil em França (2)



Qual é o problema do desemprego em França? Ser alto. E o do desemprego juvenil? Acompanhar a tendência do país. No post anterior procurei defender que o CPE é uma medida que vai pelo caminho errado.
Quer isto dizer que o CPE não pode ter como efeito baixar o desemprego juvenil? Não quer. Pode ter esse efeito se o alargamento do período experimental a dois anos tornar mais fácil contratar um jovem do que um não jovem, nas actuais condições de rigidez contratual do mercado de trabalho. Mas não aumenta a empregabilidade dos jovens e aumenta o risco de desemprego de longa duração dos adultos.
O meu argumento principal é o de que, apesar de o desemprego juvenil ser alto, a desvantagem de ser jovem no mercado de trabalho não é elevada em França.
Em comentário ao post anterior, jcd punha em causa o indicador escolhido para ilustrar esta afirmação (o racio entre a taxa de desemprego juvenil e a taxa de desemprego), que seria muito sensível à dimensão da taxa de desemprego. O indicador é, de facto sensível a esta taxa. Mas, como se pode ver no gráfico (clicar para ampliar e tornar mais legível), há países da UE em que a desvantagem relativa dos jovens no mercado de trabalho é baixa, independentemente dos seus níveis de desemprego, como a Alemanha (com desemprego alto), a Dinamarca e a Holanda (estas últimas com desemprego mais baixo). E há países em que essa desvantagem é alta, como a Itália (com desemprego elevado) e o Reino Unido (com desemprego reduzido). Em França (com desemprego alto), como na Irlanda (com desemprego baixo), é média.
Se aceitarmos este ponto de partida, veremos que a flexibilidade do vínculo contratual não deverá ser o factor estratégico de redução da desvantagem juvenil no mercado de trabalho. Senão o Reino Unido não teria essa desvantagem elevada. O alargamento do fosso para os não jovens pode fazê-lo mas à custa de uma guerra de gerações e maior precaridade social.
Pensemos agora noutro ângulo da questão. O que têm em comum os países com menor desvantagem juvenil no mercado de trabalho? Arrisco uma hipótese: sistemas de educação e formação com segmentos profissionalizantes deenvolvidos e envolvendo os parceiros sociais e as comunidades locais. É isto que distingue, por exemplo, a Alemanha do Reino Unido, não é, de todo, a facilidade de despedir.
É por isto que penso que, sendo verdade que há um problema de rigidez contratual em França e que há um problema de desemprego juvenil, o CPE não é solução para o primeiro nem para o segundo problemas.
Desenvolver a formação qualificante e envolver os parceiros sociais e educativos nesse trabalho poderia ser.