«O Rumo Estratégico do Bloco»
De acordo com a última edição do Expresso, a direcção nacional do Bloco de Esquerda está a preparar um documento estratégico que tem como ponto de partida a análise do que se escreveu sobre o resultado de Louça nas presidenciais. Desta vez, os principais dirigentes do Bloco ignoraram as opiniões dos camaradas e optaram por dar atenção aos seus «inimigos políticos». E, de facto, com inimigos destes, o Bloco não precisa de amigos. Segundo fontes bloquistas, depois de ler os «opositores», o BE chegou a duas conclusões importantes: 1) «evitar a cristalização ideológica»; 2) «tentar controlar os sindicatos» (leia-se, competir com o PC) é «inútil». A partir de agora, para além da insistência nos temas fracturantes, uma «agenda que está longe de estar esgotada», o Bloco vira-se para o eleitorado que votou Alegre: os desiludidos do 25 de Abril; gente de esquerda, descontente com o sistema político, que vota PS embora ache que ele não merece. A confirmar-se, esta mudança de estratégia até pode ser útil à criação de condições futuras de governabilidade à esquerda. O que hoje divide o PS e o BE não são essencialmente os temas fracturantes, mas antes a política económica e social (basta ver as votações no parlamento). Se o BE deixar o conservadorismo económico e social ao PC, poderá fazer, à esquerda, o mesmo que o CDS-PP fez, à direita, quando deixou de ser eurocéptico e passou a ser «eurocalmo». Essa mudança não impediu Paulo Portas de ir às feiras, de defender os idosos ou os antigos combatentes, mas permitiu-lhe influenciar a formação do Governo Durão Barroso (é certo que sem os resultados esperados pela direita). Alguns poderão não gostar do novo estilo do Bloco, tal como já não gostavam do estilo antigo, mas dificilmente terão argumentos para continuar a recusar a ideia de ter a esquerda mais à esquerda na área da governação.