Os males partilhados
Pacheco Pereira, hoje no Público. É a propósito do PSD, mas serve também para o PS.
“(...) A tese que se tornou prevalecente, quase um truísmo, é a de que o partido não interessa para nada, as políticas fazem-se a partir de lideranças fortes ou a partir da distribuição de lugares com origem na governação e que o resto é quase uma perturbação que se pretende sempre bem longe, nos fundos da casa, na cave, de preferência.
De vez em quando lá vinha do alto alguém pôr ordem, mas a cave era deixada em autogestão. O problema foi quando os andares superiores ficaram vazios e os habitantes da cave começaram a subir os andares todos e a torná-los desconfortáveis para os poucos que ainda os habitavam.
Esta visão ignorou duas coisas que hoje, pela vantagem de podermos olhar para trás, percebemos. Uma, a que deixando os mecanismos do partido apenas a funcionar para o poder local, "autarciza-se" o partido, que fica dependente de mecanismos em que o caciquismo se acentua cada vez mais.
(...) Depois, e cada vez mais forte dentro do partido a mecânica da carreira e do emprego, moldando-se as estruturas às expectativas dos cargos disponíveis quer por eleição, quer por nomeação.
O partido perdeu cada vez mais a sua relação com a sociedade civil, fechou-se aos melhores, promoveu pelo sindicato de voto e não pelo mérito. Já várias vezes insisti no facto de que, entregando o nosso sistema constitucional um número significativo de poderes aos partidos políticos e o monopólio da representação parlamentar, não se pode ser indiferente à qualidade da democracia interna desses partidos, aos seus mecanismos de promoção e carreira, aos efeitos perversos da corrupção, e a todas as manifestações oligárquicas do seu funcionamento. (...)”