Quotas sem comunidades
De acordo com o Filipe em quase tudo, com um ligeiro senão. Quotas para fazer representar comunidades têm mais efeitos preversos do que benéficos. E porque os fechamentos comunitaristas constituem o principal efeito perverso das quotas, eu diria que a haver bloqueio na desigualdade que estas permitiriam resolver com perversões quase nulas, esse bloqueio é certamente o que continua a, por regra, manter as mulheres de fora dos lugares de topo da política e das finanças.
E não vale trazer para aqui o argumento do mérito, porque onde os mecanismos de recrutamento para o exercício de funções dirigentes mais se assemelham a mecanismos meritocráticos, impessoais, universais e abstractos — na Administração Pública — menor é a exclusão relativa das mulheres no acesso aos lugares de topo.
Resta a possibilidade de criação de redes fechadas de recrutamento de mulheres, paralelas às que os homens foram construindo ao longo de anos. Nada que não tenha solucão, bastando lembrar a proposta de Darhendorf para colocar prazos de vigência imperativos a todo o sistema de quotas, contrariando assim possíveis derivas de segmentação.
E depois é fácil. Uma vez eleitas mulheres para cargos políticos locais e nacionais em maior número, os eleitores passarão a avaliá-las, crescentemente, com critérios a-sexistas, como o comprovam estudos feitos em França sobre o assunto e divulgados num dos últimos números da revista Sciences Humaines. E serão reeleitas, as que o forem, muito mais em função da qualidade do mandato que realizarem do que de qualquer critério de representação feminina.
Com quotas sem comunidades não há razão para hesitações.