Doutorados irrelevantes?
Segundo Manuel Mira Godinho, “O país precisa de novos doutorados, mas a maior parte deles tem de ser formada em áreas e temas pertinentes do ponto de vista económico e social.”
Sempre me fez confusão esta concepção planificadora da formação avançada e da investigação. Primeiro, porque desvaloriza a qualificação como bem em si mesmo, fazendo depender o seu valor de uma utilidade socioeconómica imediata. Segundo, porque nunca serei capaz de entender como se define, com objectividade, essa utilidade. Quem identifica as “áreas e temas pertinentes” e com que critérios? Significa o quê a expressão “pertinentes”? É política ou técnica a escolha das prioridades de qualificação? Se é técnica, que novas metanarrativas foram recentemente inventadas que permitam prever o futuro desconhecido? Se é política, como se garante o equilíbrio entre os diferentes interesses em confronto e a democraticidade da decisão?…
Por isso sempre preferi uma política de ciência centrada na avaliação da qualidade do trabalho científico e no apoio à qualidade assim identificada. Que garanta a qualidade da formação avançada em vez de classificar, com soberba, a sua maior ou menor relevância.