Gates e o financiamento dos partidos
1. Segundo a Visão (06/04/2006), o montante de financiamento público dos partidos para os próximos três anos, 64 milhões de euros, é igual ao valor que Bill Gates investirá em Portugal no mesmo período. A comparação tem um preconceito implícito: a democracia é cara. Mas também se pode considerar que, afinal, o “espectáculo Gates” se traduziu em pouco. E concluir que o custo dos partidos, um dos custos da democracia, é baixo: mais ou menos o mesmo, para três anos, que o custo de uma campanha publicitária de uma empresa multinacional.
2. Note-se, no entanto, que será sempre possível a mesma pessoa manifestar de manhã a sua indignação com o financiamento público dos partidos e, da parte da tarde, arrepanhar os cabelos com os riscos que a corrupção, bem como a promiscuidade entre interesses públicos e privados, representa para a democracia. Basta não ter qualquer vergonha na cara, qualidade bem mais generalizada do que parece. A mesma qualidade que, por exemplo, permite que a mesma pessoa assine em Portugal um compromisso público de luta activa contra a corrupção, um dia, e, outro dia, corra para fazer negócios em Angola segundo as “regras da casa”.
3. Para perceber de vez o custo dos partidos em Portugal. Há 450 professores destacados nos sindicatos da educação, o que representará mais de 15 milhões de euros ano de financiamento público (contra 21 para o conjunto dos partidos). Conclusão? Em comparação, sai barato o sistema partidário, mas sai caro o sistema corporativo. Embora haja corporações bem mais caras do que outras, como se verá esta semana.