Inteligência real
Numa entrevista recente a Ana Sousa Dias, António Lobo Antunes relatava que um parente seu tinha um filho de quatro anos que passa a vida "a jogar passivamente computador" e perguntava-se "que tipo de pessoa" seria ele "no futuro". Provavelmente, um tipo perfeitamente normal e adaptado à sociedade em que vive.
Um ano depois da edição original, chega a Portugal um livro de Steven Johnson que tem pelo menos um ponto de interesse: tenta descontruir o mito, muito enraízado, de que os hábitos de jogar computador ou ver televisão, por exemplo, são necessariamente nocivos para as pessoas - e para os mais jovens em particular. O autor salienta a complexidade de muitos dos jogos de computador mais populares e o facto de envolverem tomadas de decisão sucessivas e rápidas em ambientes que exigem (e ajudam a produzir, portanto) capacidades cognitivas e estratégicas apreciáveis.
Sem ter ainda lido o livro (reproduzo aqui ideias das numerosas críticas que têm sido escritas sobre ele), arrisco dizer que o argumento, além de provocatório, merece atenção - a atenção que tem tido, aliás, um pouco por todo o lado. E merece ser lido sobretudo pelos que continuam a insistir quer na "tragédia do fim da leitura" (outro mito, aliás) quer na ideia de que essa "leitura" seria insubstituível no desenvolvimento cognitivo e como ferramenta educativa.
JOHNSON, Steven (2006), Tudo o que é mau faz bem, Porto: Lua de Papel.
[edição original: 2005, Everything bad is good for you: how today's popular culture is actually making us smarter, New York: Riverhead]
PS. Steven Johnson tem um blogue pessoal. Ver aqui.