O problema do bipartidarismo
Nesta última edição do Expresso, Daniel Oliveira, a propósito da esquerda italiana, lamentava o centrismo inerente aos sistemas bipartidários. Esqueçamos que o sistema italiano não é maioritário nem bipartidário, mas sim proporcional (com bónus maioritário) e, na aparência, bipolarizado. De facto, a sociologia eleitoral mais clássica (Downs, Duverger) associa o bipartidarismo à moderação política. A tese é simples: sem competição eleitoral à esquerda ou à direita, os partidos dominantes limitam-se a competir pelo «centro». Ou, como diz Daniel Oliveira, «quando o centro deixa de estar pressionado à esquerda desiste dela». No entanto, a experiência recente tem mostrado que esta tendência não é lei. A existência de dois partidos dominantes tende a excluir os radicais, mas também pode deixar os moderados em minoria. Tudo depende da correlação de forças existente no interior dos dois partidos e, no limite, das características das próprias sociedades. Nos anos 80, os governos mais radicais (Reagan e Thatcher) surgiram justamente em sistemas bipartidários. E, nessa altura, os discursos do Partido Democrata e do Partido Trabalhista pouco ou nada tinham a ver com o que veio a ser a estratégia centrista de Clinton e Blair. Mais recentemente, Bush, inspirado pelos conselhos de Karl Rove, voltou a demonstrar que uma campanha radical num sistema bipartidário não significa derrota antecipada. O problema do bipartidarismo não é impedir o surgimento de alternativas ideológicas claras; é empobrecer a representação das diversas correntes políticas. Sejam elas radicais ou moderadas.