segunda-feira, 17 de abril de 2006

Parecendo que não

O recrutamento generalizado de independentes para os Governos democráticos é consequência, mas também é causa da degradação do parlamento e dos partidos. Portugal, aliás, tem sido pioneiro nesta matéria. Mas se alguém critica esta tendência, é logo acusado de aparelhismo ou de ignorar a realidade. O politólogo Philippe Schmitter, que, tanto quanto sei, não é frequentador habitual de sedes partidárias, explica hoje no DN por que é que, parecendo que não, este fenómeno é mau para a democracia:

Em Portugal os governos gostam de incluir quem nunca fez política. Acha que é uma coisa boa?

Não acho que seja uma coisa boa. Pode ser bom num sentido tecnocrático, no qual precisamos de pessoas que estejam acima dos partidos e que possam olhar para um problema difícil para o qual são necessários conhecimentos técnicos. Mas essas pessoas não têm que ser os ministros. É muito diferente recorrer ao contributo de um técnico ou fazer dele o responsável pela política.

E isso acontece porquê? Porque as pessoas estão fartas dos políticos?

Essa é uma parte deste desencanto [Schmitter usa a palavra portuguesa] a que me refiro - há um declínio dramático do grau de confiança nas pessoas que fazem política. Outra questão é saber se a nomeação de não políticos é uma resposta a isso. Não tenho a certeza. Em termos genéricos, tem razão: os políticos sabem que não estão nas boas graças dos cidadãos e nomeiam cada vez mais não políticos. Vimos isto com Villepin, que fez um erro típico de um tecnocrata. Por isso, acho que os que participaram na vida política e tiveram a experiência de concorrer à eleição para um lugar são melhores políticos.