sábado, 20 de maio de 2006

Durkheim em São Paulo #2



Imagem: favela Morumbi, paredes-meias com um dos melhores bairros de São Paulo, o bairro do… Morumbi.
Fonte: Guardian.

E uma (longa) citação:
Por outras palavras, não pode haver ricos e pobres por nascimento sem que haja contratos injustos. […]
Só que estas injustiças não são fortemente sentidas enquanto as relações contratuais estiverem pouco desenvolvidas e a consciências colectiva for forte. […] Mas à medida que o trabalho se divide mais e que a fé social se enfraquece, elas tornam-se mais insuportáveis, porque as circunstâncias que lhes deram origem ressurgem com mais frequência e também porque os sentimentos que elas despertam não podem ser tão completamente temperados por sentimentos contrários. […]
A tarefa das sociedades mais avançadas é portanto, pode dizer-se, uma obra de justiça. […] Da mesma forma que o ideal das sociedades inferiores era o de criar ou manter uma vida comum, tão intensa quanto possível, em que o indivíduo viesse absorver-se, o nosso é pôr sempre mais equidade nas nossas relações sociais a fim de assegurar o livre desenvolvimento de todas as forças socialmente úteis. […]
Da mesma forma que os povos antigos tinham antes de tudo necessidade de uma fé comum para viver, nós temos necessidade de justiça, e pode-se estar certo de que esta necessidade se irá tornar sempre mais exigente, se, como tudo o faz prever, as condições que dominam a evolução social permanecerem as mesmas.
Fonte: Emile Durkheim, A Divisão do Trabalho Social, vol. II, Lisboa, Presença, 1977, pp. 180, 183 e 184 (edição original: 1893).