Durkheim em São Paulo
Hoje, no DN, Pedro Lomba comenta a crise do Estado brasileiro que teria ficado sublinhada com a recente onda de violência organizada em São Paulo. E refere Hobbes: “Uma pessoa olha para a violência descontrolada em São Paulo e pensa em Hobbes. As perguntas do filósofo inglês são também as nossas perguntas. Como é que uma sociedade pode sobreviver sem que a segurança dos seus membros esteja assegurada? Como é que uma sociedade pode subsistir sem um estado forte, com meios e legitimidade para garantir a segurança dos seus cidadãos?”
A referência faz sentido. Mas faz também sentido acrescentar-lhe a pergunta que Durkheim endereçaria a Hobbes uns tempos depois: poderá uma sociedade subsistir se reduzir a resolução do problema da ordem ao dos efeitos da coerção estatal? Ou deverá esta ordem coerciva reforçar a ordem moral, que contém a “guerra de todos contra todos”, e suprir as suas falhas?
Porque o problema no Brasil, mas também nas áreas suburbanas das grandes metrópoles europeias (como assinala António Vitorino no mesmo número do DN), inclui o saber como é possível existir uma tão grande base de recrutamento para o crime organizado. E a erosão da ordem moral provocada pelo crescimento da desigualdade e da sua visibilidade deverá ser parte da resposta a esta segunda pergunta.