Eleições no Peru
A segunda volta eleitoral para eleger o presidente terá lugar no Peru a 4 de Junho. Quando muitos esperavam que o nacionalista Ollanta Humala, ex. tenente-coronel acusado de torturas e desaparições, triunfasse facilmente e se unisse ao eixo Hugo Chávez - Evo Morales, eis que aparece o antigo presidente Alan Garcia para estragar os prognósticos.
Garcia tem um histórico deplorável: após criar tremenda expectativa em toda a América Latina com uma imagem jovem e revolucionária, governou entre 1985 e 1990 deixando o país na bancarrota e o governo nas mãos do inglório Alberto Fujimori. No entanto, Garcia tem vindo a mudar nos últimos tempos e exibe actualmente um impecável discurso social-democrata.
O histórico de Humala, embora com poucos antecedentes oficiais, é, todavia, mais tenebroso. Filho de um dos fundadores do movimento etno-cacerista, que apregoa um nacionalismo racista anti-branco, anti-chileno e, claro, anti-semita, escreveu com um seu irmão (incidentalmente, hoje na cadeia) artigos onde não poupa recomendações sanguinárias e guerreiras para resolver os problemas peruanos, quer internos quer externos – nomeadamente com o Chile.
O que dizem as sondagens? Após vários anos em que a maioria dos peruanos considerou a Venezuela como o país mais amigo do Peru e que a imagem positiva do actual presidente Alejandro Toledo raramente atingiu os dois dígitos, hoje o país melhor visto é a Colômbia – o maior aliado sul-americano dos Estados Unidos – e Toledo supera os 30% de valorações positivas. Além do mais, de 35% dos inquiridos que declaram saber do que se trata, mais de 80% aprova a assinatura de um tratado de livre comércio com os Estados Unidos. Enquanto Chávez perde prestígio e arrasta o extremista Humala (ou vice-versa), o hoje moderado Alan Garcia emerge como quase certo triunfador das próximas eleições.A acreditar que um tsunami esquerdo-populista alastra pela América Latina, o Peru não parece correr risco de inundação.
Andrés Malamud