Lord Sword and the dress code
Confesso que leio religiosamente as crónicas do Dr. Espada. Tenho para mim que na imprensa portuguesa, que me perdoe o RAP, não há outro momento tão conseguido do ponto de vista humorístico. Há ali uma fina ironia que teve já momentos absolutamente sublimes – um recente, a propósito da canicultura e da Rainha de Inglaterra, ainda que guarde com particular carinho um outro, já com mais de um ano, sobre o perigo do uso de xanatas para a civilização ocidental. Mas o Dr. Espada, infelizmente para nós, suspende por vezes o humorismo, para publicitar as suas outras actividades. Esta semana saiu um destes artigos, onde se anunciava a conferência de Timothy Garton Ash (que muitas vezes é carinhosamente tratado como Tim pelo colunista) no curso da Universidade Católica que os jornalistas do Público são estimulados a frequentar – ficámos também a saber pelo Expresso. Fiquei com vontade de ir. Também eu simpatizo com o Tim. Mas, hoje, ao ler o Público deparo-me com um anúncio à mesma conferência e para meu espanto há dress code. Fato escuro. É legítimo, eu é que já não vou.
O Dr. Espada gosta muito de falar do maravilhoso mundo da academia anglo-saxónica. Partilho com ele a simpatia por esse mundo. O problema é que o mundo de que ele fala só existe na cabeça do próprio. Tirando umas duas ou três universidades com uns séculos de história e apenas em momentos muito particulares, uma das qualidades desse mesmo mundo é a atitude liberal face ao dress code – contrastando por exemplo com o tipo de exigências patéticas que é feito em algumas faculdades de direito portuguesas. Ninguém se lembra nos EUA ou no Reino Unido de exigir dress code para defender doutoramentos, dar aulas, quanto mais assistir a uma conferência ao fim da tarde. A isto chama-se provincianismo, uma atitude que não caracteriza o “mundo livre” da academia anglo-saxónica.