Inteligência táctica
1. A Ministra da Educação tem um programa corajoso de reforma. Levanta dúvidas, terá, concerteza, aspectos complexos, enfrenta interesses organizados. Defende a escola pública e democrática, a tempo inteiro, de qualidade para o maior número e a melhoria dos níveis escolares do país. À esquerda há quem se deixe identificar com alguns interesses ameaçados, atitude aqui e acolá alimentada e potenciada por um ou outro exagero do próprio Ministério. Cavaco Silva, que agiu sempre orientado por um programa bem diferente para a educação, cola-se, para este efeito, ao Governo.
2. O Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social quer adequar a sustentabilidade financeira do sistema de segurança social às condições económicas projectadas para o país, ainda que estas sejam as que temos que agir para que não se produzam. Pretende ainda limitar fraudes e abusos, eliminar alçapões legais propícios à manipulação, promover os direitos dos trabalhadores idosos. À esquerda há quem só veja que nem todas as suas propostas são igualmente justas e que algumas poderiam facilmente caír para bem da sua própria ambição. Há ainda quem embarque no irreaismo demagógico, como, por exempo, quando defende a descida da idade legal de reforma. A CIP que representa os interesses que usavam as reformas antecipadas de um dos modos mais prejudiciais, que não subscreveu o acordo que criou a nova fórmula de cálculo das pensões porque queria uma redução da taxa social única que teria sido suicidária para o sistema e que pediu sempre um plafonamento em moldes altamente prejudiciais para o seu equilíbrio financeiro, faz apreciações encomiásticas.
3. Deixo aqui o meu elogio público à "flexibilidade ideológica" dos Presidentes da República e da CIP. Tenho pena que alguns sectores que defendem quer a escola quer a segurança social públicas, sustentáveis e de qualidade, não estejam a revelar idêntica capacidade.
Diz-me a experiência que os erros que sempre existem e acabam por ser corrigidos nas propostas iniciais serão os que aproximarem da disponibilidade dos parceiros com maior inteligência táctica na fase de negociação.