Não compreendo a atitude do PS em relação ao esclarecimento dos alegados voos da CIA
Não compreendo a orientação do Grupo Parlamentar do PS na questão dos eventuais voos da CIA em território português.
O contributo do relator do Parlamento Europeu sobre as alegadas operações ilegais da CIA na Europa inclui uma lista detalhada de aviões, com voos, origens e destinos e datas, que carece de ser explicada. Talvez seja errada, talvez seja irrelevante, mas existe e foi apresentada publicamente, não pode ser ignorada.
Ficaria muito mais tranquilo se soubesse que as autoridades portuguesas de viva voz repudiam que qualquer operação ilegal da CIA nesse âmbito, envolvendo aqueles ou outros aviões, alguma vez tenha ocorrido em território português. Depois de ouvir o eurodeputado Carlos Coelho dizer que é necessário melhorar o controlo dos serviços secretos europeus, gostaria que os nossos responsáveis pelos serviços de informação esclarecessem que não foram envolvidos, activa ou passivamente, nem nunca recolheram nenhuma informação que conduzisse a que qualquer operação desse tipo tenha envolvido directa ou indirectamente Portugal.
Acho louvável o requerimento que o deputado José Vera Jardim apresentou ao Governo sobre este assunto. Compreendo que o PS não queira que o Ministro dos Negócios Estrangeiros, as autoridades de navegação aérea e os serviços de informações sejam ouvidos nas datas e segundo o formato dos requerimentos do PCP e do Bloco de Esquerda.
Não percebo de todo, contudo, é porque é que o PS não apresenta uma iniciativa própria de audição de quem for relevante sobre o que significa a lista detalhada de voos apresentada pelo relator do Parlamento Europeu, incluindo, recorde-se, pela primeira vez, o relato de um voo que liga Portugal a Guantanamo. Por que critério a explicação desta ocorrência não é motivo suficiente para um esclarecimento público? Por que critério esse esclarecimento não deve ser prestado no Parlamento? A razão deve ser evidente e eu não a estar a perceber. Expliquem-me, por favor.