As lições da Azambuja
Para além do espectáculo dos que espreitam a oportunidade da crítica fácil e oportunista, tão frequente como lamentável, valeria a pena aprender com o que se vem passando na GM da Azambuja.
Por mim, tiraria três lições, que vêm confirmar, uma vez mais, outras tantas convicções que a observação da realidade social portuguesa vem sedimentando:
1. As estratégias localistas e imediatistas pagam-se caro: é isso mesmo que sugere a comparação dos comportamentos dos representantes dos trabalhadores na GM da Azambuja e na VW de Palmela (AutoEuropa); ao contrário do que aconteceu na AutoEuropa, no primeiro caso deu-se prioridade à revindicação salarial, ignorou-se durante muito tempo quer a decisões, quer a participação activa no diálogo social europeu;
2. Os instrumentos do diálogo social, mesmo quando utilizados a tempo e horas e articulando as instâncias nacionais e supra-nacionais – europeias e internacionais – não são, por si sós, capazes de suster as estratégias empresariais de empresas como em situação de profunda crise, como é o caso da GM;
3. No plano nacional, os instrumentos tradicionais de intervenção política na regulação dos mercados de trabalho – designadamente, a legislação sobre despedimentos - são ineficazes justamente quando são mais necessários, isto é, quando a limitação legal visa controlar consequências sociais de factores económicos e não a simples regulação do poder do empregador despedir ou contratar.
É por razões desta natureza que continuo a entender que há que repensar e redefinir os instrumentos tradicionais de intervenção, substituindo parte dos instrumentos legais tradicionais – tantas vezes ilusórios – por instrumentos sociais eficazes, de que os mais eficientes continuam a ser as políticas activas de emprego e a protecção dos rendimentos em caso de desemprego.
E como seria útil que, sobretudo à esquerda, isto se percebesse a tempo e horas, deixando para a direita política o espectaculo degradante dos oportunismos de ocasião