A doença senil da esquerda
Francisco Louçã está muito chocado: «O Avante tem, com regularidade, pequenos insultos e tricas. Na entrevista ao Expresso, o secretário-geral do PCP cometeu a grosseria espantosa de comparar o BE com um chinelo. Não damos a isso um valor facial. Sabemos que o sectarismo é a doença senil da esquerda» (Expresso, 15 de Julho). Não sei se Louça ainda se lembra, ou se também já foi atingido pela «doença senil da esquerda», mas há exactamente um mês, em entrevista ao Diário de Notícias, deu um contributo que seria do maior interesse para o Estudos sobre o Comunismo: «O partido comunista não tem ideologia. O PCP tem 85 anos de história, quase todos vividos na base da União Soviética. A única ideologia a que isto corresponde é aquela que não pode ser dita: a ideologia de um partido que defendeu o Estado repressivo. Este modelo de sociedade – que é um modelo pavoroso, de destruição da liberdade do povo e da própria ideia de socialismo – é o que corresponde à história inteira do PCP.» Terá razão. E também não andaria longe da verdade, se, em vez do PCP e União Soviética, Louça falasse da UDP, da China e da Albânia. Aliás, entre «chinelos» e «Gulags», nada disto seria grave, se estes senhores (Louça, mas também Jerónimo) não representassem uma parte importante da esquerda. Mas representam. A guerra fratricida entre Bloco e PCP já teve consequências negativas na vida dos sindicatos e, pior, nos resultados autárquicos e presidenciais da esquerda. Para o ano, há referendo sobre despenalização do aborto.