segunda-feira, 31 de julho de 2006

Memória curta

Antes de fecharem para férias, as estruturas distritais do Partido Socialista anteciparam o próximo Congresso, com a colaboração de vários ministros e dirigentes nacionais. Segundo relatos da imprensa, em diferentes reuniões surgiu a mesma dúvida: deve o PS aproveitar o congresso para discutir ideologia? Num dos debates (penso que no de Lisboa), chegou-se à conclusão que «se a declaração de princípios do PS fosse escrita hoje, seria diferente» (tendo em conta a marca «liberal» da governação de Sócrates, presume-se). É impressionante a forma como a lógica mediática dos rótulos e da fulanização atinge (ainda que inconscientemente) as organizações partidárias. Aparentemente já ninguém se lembra que em 2002, nas vésperas do Congresso do PS, o projecto de declaração de princípios, coordenado por Augusto Santos Silva com o objectivo de adequar o texto à cultura acumulada de governo e ao fim da guerra-fria, foi precisamente acusado de «revisionista e liberal» (a mesma acusação que hoje é feita a Sócrates). Pelos vistos, o que ficou na memória dos militantes não foram as ideias que constavam do texto da nova declaração de princípios (que, pelos vistos, ninguém leu), mas as ideias-feitas acerca do perfil do coordenador (entretanto, apoiante de Manuel Alegre) e daquele que era secretário-geral à época: Ferro Rodrigues, «o secretário-geral mais à esquerda da história do PS».