domingo, 23 de julho de 2006

Sem Líbano governável, Israel vive melhor?

Em princípio, a ofensiva militar israelita foi desencadeada a pretexto de uma retaliação, mas teria sido planeada para desbastar a capacidade militar do Hezzbollah e, conhecendo as doutrinas israelitas para, de passagem, matar o seu líder. Este último objectivo, até agora, falhou. Mas os anteriores parecem alcançados.
Agora tornar-se-á claro o real objectivo da ofensiva: o terrorismo do Hezbollah ou a governabilidade do Libano?
Tudo aponta para que um governo com um mínimo de autoridade no Líbano seja melhor condição para manter a pressão sobre o Hezbollah, como se tinha vindo a verificar nos últimos tempos. O edifício débil da democracia libanesa poderia não ser suficientemente forte para enfraquecer significativamente o poder militar instalado do Hezbollah. Mas é mais eficaz a conter o seu regresso do que o caos.
Tornar o Libano um vasto corredor ingovernável, entre a Síria e o Irão, de um lado e Israel do outro, não vejo em que possa servir a defesa deste último. Para além de que reduz o estatuto moral de Israel, então reduzido a uma democracia dentro de portas incapaz de conviver com a democracia dos vizinhos e pronto a desestabilizá-los com a mesma facilidade com o que o fizeram as ditaduras árabes, como a Síria. Acresce, ainda, que o vasto apoio interno conseguido em Israel diminuiria significativamente caso se tornasse claro o segundo objectivo.
Seria um grande erro israelita e mais uma tragédia regional se esta ofensiva militar deixasse de ser contra o Hezbollah, embora com efeitos trágicos para os libaneses e passasse a ser uma guerra contra a frágil e recente democracia do Líbano. Mas é o que parece estar a acontecer.