Contingente militar português no Líbano: decisão judiciosa
Em devido tempo, expressei aqui as minhas preocupações quanto ao mandato que viria a ter a força militar internacional no sul do Líbano e o envolvimento que Portugal nela devia ter.
Os acontecimentos, até agora pelo menos, continuam a demonstrar que esta missão é perigosa e tem um mandato insuficientemente claro quanto à tarefa espinhosa, admitindo que viável, de desarmamento do Hezbollah, sem a qual o conflito continuará em banho-maria.
Provavelmente, esta missão militar acabará, será circunscrita ou ultrapassada pela evolução das relações entre as partes directamente envolvidas: Israel, Líbano e Hezbollah (e seus patocinadores). E nada indica que ela seja um passo decisivo no processo que há-de resolver estruturalmente a questão que, embora com metamorfoses, persiste há décadas. Mas é um passo necessário para o Líbano neste momento e uma oportunidade para a Europa demonstrar se tem política externa.
Neste contexto, o envolvimento português deveria existir, mas ser cauteloso. Nas circunstâncias que se criaram, a resposta parece-me adequada e proporcional. Vamos participar na missão, no quadro das nossas obrigações para com a afirmação externa da Europa, sem voluntarismos nem nos pormos em bicos de pés e com um tipo de envolvimento que nos liga mais à tarefa indispensável - e humanitária - da reconstrução do país do que às questões operacionais da verificação do cumprimento do cessar-fogo acordado.
Todas as missões militares têm riscos, por isso as decisões sobre elas devem ponderar muito bem as necessidades e os interesses. Por mim, acho que a decisão portuguesa foi judiciosa e tudo aponta para que tenha sido bem construida entre os actores institucionais envolvidos. Talvez desiluda quer os falcões quer os que têm uma visão do que se passa no Líbano com pelo menos duas décadas de atraso, uns por lhes parecer tímida e outros por achar que não deveria existir. Pessoalmente, acho que nem uns nem outros têm razão.